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12 de set. de 2012


Sogra e o Imaginário Popular

 Sabemos que o tema sobre sogra é pauta para os mais ardentes debates e carrega um sentido pejorativo no imaginário popular. Há sempre queixa velada ou explícita da interferência desta figura pautada no estereótipo de megera.  Como psicóloga, tenho procurado entender que fatores intervenientes estão por trás dessa complexa relação de antipatia.
Entre um casal que se relaciona, existe um sistema de valores e uma cultura própria que cada indivíduo, traz consigo de sua família. A educação, a formação, as crenças, nível de instrução, interesses, geralmente diferentes, sendo esses, fatores conflitantes para uma boa convivência. Há, já pairando no ar, mesmo antes de um casal  firmar qualquer compromisso, certas referências sobre a expectativa negativa dessa convivência, certa  predisposição à rejeição.
A sogra carrega um estereótipo que geralmente suscita piadas, brincadeiras, gozações e comentários jocosos. A forma preconceituosa como é vista essa relação pode dificultar o estabelecimento de vínculos entre sogra e nora e conflitos entre casais. As mães querem sempre ter o privilégio da última palavra na escolha da (o) companheiro (a) do filho (a), são elas que consciente ou inconscientemente estabelecem critérios para essa escolha.
Segundo Freud se faz possível dois tipos de escolha objetal, a saber: a anaclítica ou de apoio, ou narcísica. A primeira diz respeito ao fato de que os objetos das pulsões do ego se tornarão objetos da libido, ou seja, a escolha se apóia no processo da autoconservação, conduzindo para certo objeto tendo como referência, figuras parentais: pais ou substitutos. A segunda se refere a uma escolha de objeto semelhante ao próprio sujeito, ao que ele foi ou desejou ser.  
Quando a mãe tem uma forte relação de dependência com o filho ou filha, experimenta o casamento destes como uma perda afetiva muito grande e, esta, facilmente se transforma em rejeição, repulsa ou ciúme para com a nora ou genro, que é quem lhes "rouba" a prole. Pode surgir, a tendência, ás vezes, inconsciente, de criticar a nora ou o genro, colocando-se numa posição privilegiada de confidente perante o filho ou filha. É uma forma de se colocar como a pessoa única em quem o filho ou a filha pode continuar confiando.  
Outro fator que pode influenciar a relação sogra-nora é a chegada de um filho/neto, pois a partir desse momento existe mais um ser a ser disputado por ambas. A sogra parece ser sempre sentida como uma ameaça em relação ao amor do filho/neto.
Devido a todos os fatores que envolvem a relação sogra-nora, são inúmeros os sentimentos desencadeados nessa ligação, como por exemplo: ciúme, inveja, raiva, tristeza, insegurança, amizade, amor, carinho, respeito, entre outros.
O papel do marido/filho é fundamental no desenvolvimento da relação sogra/nora. Cabe a ele separar o amor de mãe do amor de esposa, colocando ambas nos seus devidos lugares. O mesmo se dá com relação esposa/filha.
As queixas freqüentes, que mais identifico no consultório, são: a sogra que chega à casa do filho (ou filha) e age como se estivesse na própria casa. Invade a cozinha, interfere na arrumação e na limpeza da casa, na lavagem e organização das roupas, na escolha da alimentação. Aquela que abre os armários, "sugere" mudanças, quer saber a razão do filho/filha estar aborrecido ou triste, curiosa em saber sobre a vida particular do casal, sobre as condições financeiras e aquisições do casal, críticas sobre consumo e economia doméstica; aquela que compete com a nora: numa clara disputa entre quem é a mais sedutora. Aquela que vive doente e/ou solitária, queixosa, carente, dada à chantagem emocional. Sogra desagregadora: aquela que se torna cúmplice da nora, que fala mal e que só aponta as características negativas do filho/filha, insuflando o genro ou nora contra seu par numa tentativa, ás vezes inconsciente de mostrar ao filho que só ela o ama, apesar dos defeitos. Aquelas que intrometem na educação dos netos.
Apesar dos inúmeros conflitos a relação sogra/nora, pode ser administrada de forma saudável. Isto ocorre à medida que ambas amadurecem emocionalmente e passam a compreender-se mutuamente, conscientizando-se que não precisam competir, uma vez que cada uma exerce um papel diferente. Este é, no nosso entender, o grande desafio para a contínua construção desta relação.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
        Psicóloga Clínica

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Psicoterapia e seus benefícios



Os últimos avanços na área da Psicologia e Psicoterapia têm permitido alcançar resultados cada vez melhores e mais significativos. Apesar de ser considerado um tratamento oneroso, a psicoterapia tem se mostrado, na realidade, um procedimento econômico. Pesquisas indicam que a aplicação efetiva da psicoterapia diminui os índices de transtornos mentais, internações hospitalares, idas aos prontos socorros, a auto-medicação e seus malefícios, e consumo indevido de psicotrópicos, outros medicamentos, etc.
Além dos benefícios que traz para a saúde psicológica da pessoa, a psicoterapia melhora a qualidade de vida, favorece a aquisição de autonomia, aumento de auto-estima, dando uma nova orientação em relação à vida das pessoas. A psicoterapia tem se mostrado um tratamento economicamente compensador, por prevenir e tratar problemas psicológicos que, quando não tratados adequadamente, trazem enormes prejuízos pessoais, conjugais, sociais e profissionais, com repercussão na situação econômica e afetiva das pessoas (perdas financeiras, compulsões, divórcios, separação, perda de emprego ou de oportunidade de ascensão no trabalho, etc.).
Em nossa atividade profissional, temos observado que a maioria das pessoas que tem comparecido à clínica, em busca de ajuda psicológica, o faz por vontade própria, outros vêm por insistência ou pressão da família. Os que comparecem por esta última via, geralmente, apresentam maior dificuldade em aderirem ao tratamento, neste caso demoram um pouco mais a se engajarem no processo. É importante dizer que a psicoterapia só funciona a partir do momento em que o cliente desejar ser ajudado e aceitar o tratamento, ou seja, sem engajamento não há terapia. A experiência tem mostrado que as pessoas que procuram ajuda espontaneamente respondem melhor ao tratamento e têm melhor aproveitamento que aquelas que se submeteram às decisões de terceiros. Os que tomaram iniciativa própria, geralmente se deram conta de que algo diferente estava acontecendo com elas, sentiram necessidade de buscarem ajuda e obtiveram grande alívio ao poderem expressar seus sentimentos de forma adequada. Alguns destes sentimentos foram manifestos através da verbalização de insatisfação como forma da pessoa reagir a certos acontecimentos, frustrações com sua situação familiar, dificuldades nos relacionamentos interpessoais, falta de iniciativa ou disposição para realizar atividades cotidianas, posturas habitualmente pessimistas, oscilação de humor, medos irracionais, pânico, timidez, ansiedade, depressão, ciúme, desânimo, entre outros. Ainda, como motivos desta procura foram indicados: a percepção de que o padrão de comportamento utilizado por essas pessoas não lhes proporcionava vida estável e equilibrada, que o jeito habitual de ser, lhes causava problemas e prejuízos consideráveis na vida pessoal, social e profissional, sendo, muitas vezes, impeditivos para o estabelecimento de relacionamentos satisfatórios.
Temos presenciado pessoas que procuram ajuda psicológica por, de repente, se deram conta de que os problemas foram se acumulando ao longo da vida e soluções foram sendo postergadas às expensas do estresse causado, culminando em agravamento de conflitos pessoais, conjugais e profissionais. Algumas pessoas ficaram surpresas em terem permitido que seu estado emocional pudesse chegar a tal nível. Tais pessoas se questionaram como puderam negligenciar sua saúde mental e conviverem com tantos problemas, suportando tantos sofrimentos. Mais surpresas ficaram quando descobriram as conseqüências negativas, que poderiam ter evitado (algumas delas irreversíveis), caso tivessem buscado ajuda apropriada, no momento adequado. As pessoas se mostraram arrependidas por não terem tomado iniciativa antes, tomando consciência do preço que tiveram que pagar por permanecerem em conflitos consigo e com os outros, sobretudo, com os mais próximos e significativos (filhos, pais, cônjuges, etc.). Admitiram o quanto viveram infelizes, derrotadas, amargas, mal-humoradas, quando poderiam ter desfrutado melhor as oportunidades da vida. Pessoas que já poderiam ter alcançado sucesso em sua vida conjugal, familiar, profissional, encontram-se hoje, sem rumo, desorientadas frustradas, sem perspectivas futuras por falta de autoconhecimento e auto-estima. Quantas delas insistem em resolver os problemas por si próprias, sem obterem resultados desejados, se acomodando a eles por medo, orgulho, preconceito, teimosia, ou mesmo, por ignorarem os recursos psicológicos disponíveis. Ainda, assim, muitas resistem recorrerem a esta alternativa, mesmo sabendo ser esta, o recurso efetivo para instrumentá-las a lidarem adequadamente com seus conflitos.

Auto-estima: sucessos e fracassos

A auto-estima é um sentimento essencial à sobrevivência psicológica, no entanto, as exigências do mundo moderno parecem estar tornando tal conquista uma tarefa penosa e difícil de ser atingida. Haja vista suas implicações freqüentemente detectadas nas queixas dos clientes tanto jovens, como adultos e idosos que procuram ajuda psicológica, entre elas: a timidez, a insegurança, a depressão, a dependência afetiva, o ciúme excessivo, etc.
A crise de valores parece ser outra conseqüência desta presença constante, um dos sintomas emocionais freqüentes. Muitos sentimentos de inferioridade podem ser influenciados por valores distorcidos pela mídia, por publicidades apelativas, por apelos ao consumismo, pelo culto ao corpo, por ideologias consumistas.
O mundo moderno supervaloriza o novo, o belo, o perfeito, o forte, os mais jovens, a performance sexual, as proezas atléticas, o poder, as posses materiais, mas não valoriza da mesma forma, o amor, a simpatia, o caráter, a amizade, a alegria, a paz, a fé, a tolerância, a fidelidade, a compreensão, as tradições, a disciplina, os valores morais. Quando falamos de auto-estima estamos referindo-nos ao grau de aceitação de nós mesmos, do grau de estima que adotamos frente ao conceito que fazemos de nós. Nossos sentimentos afetam nossa auto-estima de maneira positiva ou negativa. O sentimento de auto-estima é a percepção valorativa de nosso ser, da importância que temos para as pessoas que nos rodeiam, e desta, depende toda nossa realização pessoal e profissional. É a partir dela que tomamos decisões, fazemos escolhas e nos relacionamos e interagimos com o meio familiar, profissional e social.
Da auto-estima depende nossos sucessos e fracassos, uma vez que vinculada a um conceito positivo de nós mesmos, pode potencializar nossas capacidades e talentos, desenvolver habilidades, aumentar nosso grau de segurança pessoal e nos levar a postura otimista frente a novas conquistas. Isto implica no sentimento de estarmos de bem com a vida, de sermos aceitos e amados pelo que somos. Por outro lado, também é certo que auto-estima em excesso pode se constituir num transtorno para o relacionamento quando a pessoa se torna convencida, arrogante, egoísta, podendo, muitas vezes, ser confundida com a personalidade narcísica.
Estudos recentes, realizados por pesquisadores da Califórnia, afirmam que auto-estima muito elevada pode levar à frustração e até mesmo à delinqüência. Segundo os pesquisadores, a pessoa que não sabe dosar sua auto-estima traz danos a si própria e à sociedade, pois esta atitude pode extrapolar os níveis saudáveis da competitividade e exacerbar a agressividade e a intolerância. O ideal é a ponderação entre os extremos.
A auto-estima negativa faz com que a pessoa não confie em si própria, nem em suas possibilidades, se desvalorizando e se sentindo inferior às outras pessoas. A pessoa com baixa auto-estima está sempre com a sensação de desvantagem, incapacidade, sentimento de que nunca chegará a ter o mesmo rendimento que os outros e acaba se convencendo disso. A autocrítica dura e excessiva, imposta pela baixa auto-estima, imprime estados de insatisfação da pessoa consigo própria, indecisão crônica, medo exagerado do insucesso, e de equivocar-se, ser criticado, humilhado, rejeitado, etc. Esta condição faz com que o indivíduo se retraia e desista de seus intentos.
O autoconceito e a auto-estima, em dose adequada, favorecem o sentido de identidade, constitui marco de referência, já que interpretar a realidade externa e às próprias experiências, influem no rendimento, condiciona as expectativas e a motivação, contribuindo de forma efetiva para o controle emocional e conseqüentemente para o equilíbrio psíquico.
O autoconhecimento é o caminho para auto-realização e o processo que leva à auto-estima. À medida que a pessoa identifica e aceita suas qualidades e defeitos, estará aberta para o conhecimento e reconhecimento de seus sentimentos, desejos e vontades, estará dando um grande passo para o autoconhecimento. Em geral, experiências positivas, e bons relacionamentos ajudam a aumentar a auto-estima, enquanto experiências e relações problemáticas a diminuem.
Seja uma pessoa bem sucedida cuidando de sua saúde emocional.




Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga/Psicoterapeuta