A
raiva é uma emoção forte carregada de energia, que se direcionada
assertivamente, pode proporcionar a liberação de sentimentos negativos
ocasionando sua transformação, restaurando a integridade emocional, físico e
social da pessoa.
Apesar
de a raiva ser inerente nos seres humanos, a sociedade discrimina este tipo de
emoção e não aceita de bom grado suas manifestações, seja no âmbito social ou
familiar. Conseqüentemente, ao contrário dos animais que simplesmente a expõem,
o indivíduo reprime este sentimento, não se permitindo senti-lo na mente e na
expressão emocional.
Segundo
o Manual do STAXI, adaptado para o Brasil (Spielberger & Biaggio,
1992), “raiva é um estado emocional que abrange sentimentos que variam desde
aborrecimento leve até fúria e cólera intensas, acompanhado por estimulação do
sistema nervoso autônomo”.
A
raiva é um sentimento que varia em intensidade e oscila com o passar do tempo,
em função do que é percebido como injustiça ou frustração. Está, portanto,
atrelada às diferenças individuais acerca de como este estado varia no decorrer
do tempo. Pessoas com altos escores na escala traço de Raiva, tendem a perceber
uma maior variedade de situações como irritantes ou provocadoras, em relação às
que têm índices mais baixos, e estariam propensas a elevações no estado de
raiva ao reagirem às mesmas situações (Spielberger & Biaggio, 1992).
O
conceito de agressão seria usado quando se faz referência a comportamentos
destrutivos e punitivos. Assim, poder-se-ia entender que a raiva é uma condição
necessária, mas não suficiente, para o desenvolvimento de posturas hostis e
para a manifestação de comportamento agressivo
Segundo
Setor, os mecanismos da agressão são instintivos, na medida em que se faz
necessário à preservação da vida e da espécie, bem como ao desenvolvimento
amplo do indivíduo.
Para
Winnicott, a agressão pode ter dois significados: reação à frustração ou fonte
de energia do indivíduo.
Assim,
raiva e agressividade aparecem quando nos sentimos ameaçados. São emoções que
tem suas origens na evolução das espécies. Acompanham reações e comportamentos
de defesa e auto-proteção, colaborando assim para a sobrevivência.
Quase
sempre reprimida, a raiva é um sentimento legítimo e precisa ser expresso de
maneira honesta, se quisermos preservar nossa saúde física e mental.
O
problema é quando a raiva e a agressividade se tornam formas usuais de reagir a
situações onde as coisas não acontecem conforme gostaríamos, quando sentimos
frustração, quando cometemos erros, somos criticados, nos sentimos injustiçados
ou, ainda, quando desconhecemos alternativas legítimas de defesas.
A agressividade em si não é um transtorno, mas um impulso,
uma maneira pela qual canalizamos nossa energia vital para uma ação que exige
firmeza e vigor, com o propósito de conquistar algo que necessitamos ou para
nos defender de perigos.
A
raiva e a agressividade podem ser externalizadas e dirigidas a outras pessoas
(como agressões verbais ou físicas), internalizada (quando se reprimem estes
sentimentos, que são remoídos em pensamentos e ressentimentos), ou quando
expressos de formas “passivas” (como sarcasmo e humilhação, manipulação,
sabotagem, etc.).
O
excesso de agressividade com impulsividade pode ser doença quando foge ao
controle, tornando-se destrutiva, causando problemas nas relações pessoais,
profissionais e na qualidade de vida do indivíduo. Nesse caso, a agressividade
é considerada impulsiva sendo conhecida como Transtorno Explosivo Intermitente,
caracterizada pela instabilidade afetiva (descontrole das emoções), gerando
comportamentos de risco, principalmente com manifestações de violência.
Dependendo de alguns fatores, tais como temperamento,
caráter, influência de valores do meio e da cultura em que está inserida, a
pessoa pode tornar-se incapaz de controlar essa energia e passar a usar de
violência, que é uma ação agressiva dirigida à destruição, geralmente em
condições de desigualdade e desrespeito, de maneira incoerente e
desproporcional. Nesse caso, tornam-se indivíduos desadaptados, incapazes de se adequar a
qualquer grupo, pelo egoísmo absoluto e a não sujeição a qualquer tipo de
regra. Só fazem o que querem e o que interessa a eles. No início, podem até se
mostrarem amistosos, mas diante dos primeiros conflitos, a sua amoralidade
aparece em todo o seu potencial, tornam-se frios, cruéis, indiferentes,
impiedosos. Isso
nada tem haver com auto-proteção, muito menos com transtorno mental, não
devendo, portanto, ser confundido como tal.
Profa, Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica