Muitas pessoas me perguntam o que é, e como se desencadeia o transtorno mental. Neste questionamento parece implícito certo receio das pessoas em vir a ser portadoras deste tipo de enfermidade. Na realidade, o medo advém do fato de se perceber o quão tênue é a separação entre o normal e o patológico. Esse medo advém também do fato da doença mental ter sido percebida e interpretada de diversas maneiras ao longo da história e comumente ter sido tratada de formas cruel.
Durante longos séculos a “loucura” recebeu explicações sem nenhuma base científica, sendo considerada através de abordagens metafísicas, mágicas ou religiosas.
Muitas culturas atribuíam a doença mental a possessões demoníacas, castigo dos deuses, e não raramente essas pessoas eram castigadas e suas famílias estigmatizadas pelas comunidades as quais pertenciam. Isto reforçou preconceitos e estigmas.
Primeiramente devemos entender porque falamos em transtornos mentais e não em doenças mentais? Em medicina, são consideradas doenças as alterações da saúde que tem uma causa determinada, com a ocorrência de alterações físicas detectáveis.
O termo transtornos, por outro lado, é reservado para designar agrupamentos de sinais e sintomas associados a alterações de funcionamento sem origem conhecida.
Os transtornos mentais, em geral resultam da soma de muitos fatores como: Alterações no funcionamento do cérebro; Fatores genéticos; Fatores da própria personalidade do indivíduo; Condições de educação; Ação de um grande número de estresses; Agressões de ordem física e psicológica; perdas, decepções, frustrações e sofrimentos físicos e psíquicos que perturbam o equilíbrio emocional. Assim, podemos então afirmar que os transtornos mentais não têm uma causa precisa, específica, mas que são formados por fatores biológicos, psicológicos e sócio-culturais. É fato reconhecido que fatores genéticos e ambientais convirjam para este tipo de adoecimento.
A hereditariedade é um aspecto importante a ser considerado, já que muitos desses pacientes apresentam histórico familiar de distúrbios mentais e, portanto, uma predisposição genética. Entretanto, é comum que os transtornos mentais na família se manifestem de forma diferente, por exemplo, um pode manifestar em Depressão, o outro em Transtorno do Pânico e um terceiro em Transtorno Bipolar.
Em relação a este aspecto o questionamento é como se poderia explicar o fato de que certos familiares com a mesma carga genética não adoecerem, enquanto outros desenvolvem transtornos mentais graves. A resposta seria que, embora a genética seja importante, ela não é o fator preponderante. Estão em jogo aí outros fatores como ambientais, educação, temperamento, personalidade, hábitos de vida, traumas, estrutura mental, que podem tanto atuarem como proteção ou fator desencadeante da doença mental.
É importante esclarecer que um comportamento anormal ou um curto período de anormalidade do estado afetivo não significa, em si, a presença de distúrbio mental ou de comportamento. Para serem categorizadas como transtornos, é preciso que essas anormalidades sejam persistentes ou recorrentes e que resultem em certa deterioração ou perturbação do funcionamento pessoal, em uma ou mais esferas da vida.
Diferentes modos de pensar e se comportar, entre diferentes culturas, podem influenciar a maneira pela qual se manifestam os Transtornos Mentais. Assim, as variações normais determinadas pela cultura não devem ser rotuladas como Transtornos Mentais, da mesma forma como, também, não podem ser tomadas como indicações de distúrbio mental as crenças sociais, religiosas e/ou políticas.
Assim, podemos dizer que transtornos mentais são alterações do funcionamento da mente que prejudicam o desempenho da pessoa na vida familiar, na vida social, na vida pessoal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si e dos outros, na possibilidade de autocrítica, na tolerância aos problemas e na possibilidade de ter prazer na vida em geral.
É aí que entram dois conceitos importantes, a resiliência e a vulnerabilidade da pessoa ao estresse, ou seja, sua incapacidade de resistir às pressões, traumas e desgostos da vida, aos quais todos nós estamos expostos.
Finalmente temos os chamados fatores de proteção, ou seja, aqueles que agem contra as condições estressantes, "fortalecendo" o indivíduo contra os transtornos mentais: os fatores de apoio social, que se referem sobretudo ao meio ambiente e à rede social da pessoa.
Profa.Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica