Neurose
A palavra “neurótico”, da maneira como costuma ser
utilizada hoje, tem sentido impróprio e pode ser ofensiva ou pejorativa. Para
muitas pessoas a palavra “neurose” pode ser utilizada como sinônimo de
“loucura”. Mas isso não é verdade. A neurose além de doença é uma maneira de a
pessoa ser e de reagir diante da vida. Essa maneira de ser, significa que a
pessoa reage através de reações vivenciais diferente, das que normalmente as
pessoas reagem; seja pelo fato dessas reações serem desproporcionais, seja pelo
fato de serem duradouras, ou ainda, pelo fato delas existirem mesmo sem causa
aparente. As neuroses são fruto de tentativas ineficazes de se lidar com
conflitos e traumas inconscientes. Nesse sentido, o que distinguiria a neurose
da normalidade seriam a intensidade do comportamento e a incapacidade da pessoa
resolver seus conflitos internos e externos de maneira satisfatória.
A neurose é uma doença causada por motivos
inconscientes os quais geralmente garantem ganhos secundários, aparentemente
vantajosos ao neurótico. Por exemplo, ser o centro das atenções familiares,
obter o domínio do ambiente, evitar responsabilidades, camuflar inseguranças,
medos, complexos, baixa auto-estima, etc.
As neuroses se manifestam por meio de sintomas inespecíficos e
específicos. Os inespecíficos, ou acessórios, podem existir não só nas
neuroses, mas também em outras doenças orgânicas ou psíquicas: depressão,
hipocondria, irritabilidade, insônia, dores de cabeça, vertigens, paralisias,
cegueira, convulsões etc. Apesar de acessórios, são muito freqüentes nas neuroses,
e às vezes dominam o quadro clínico, de modo a mascarar ou encobrir os sintomas
específicos.
Os sintomas específicos, ou essenciais, realmente típicos das neuroses,
são angústia, fobias, obsessões, conversões (somatizações) e certas inibições,
como a impotência sexual.
Em relação à ansiedade, a preocupação e o medo podem causar numerosos
distúrbios em muitos indivíduos. Uma neurose deste tipo produz um estado de
tensão crônico. Deste grupo fazem parte pessoas que são vítimas de ansiedade e
medos de toda sorte. (Medo de elevadores, multidão, micróbios, sexo, loucura,
morte e muitos outros fatores). Este sentimento de insegurança as torna sempre
irrequietas. Nunca descansam. Permanecem em estado constante de exaustão
nervosa.
Os sintomas neuróticos de ansiedade geralmente se desenvolvem em pessoas
portadoras de caráter ansioso, ou seja, pessoas que encaram a vida com
apreensão, socialmente inseguras, pessimistas e negativistas. Situações
vivenciais, perdas significativas, problemas conjugais, crises financeiras e
outros conflitos mais sérios, ou ainda, doenças físicas, podem precipitar
nestas pessoas um quadro clínico de ansiedade, embora em alguns casos, os
sintomas apareçam sem que nenhum fator significativo possa ser evidenciado.
Nossas vivências terão sempre caráter individual e particular em cada um
de nós, de acordo com as particularidades de nossos traços afetivos. Os fatos
podem ser os mesmos para várias pessoas, as vivências desses fatos, porém,
serão sempre diferentes.
Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, propõe em um pequeno artigo
datado de 1911 uma análise a respeito de como nos inserimos no mundo e de que
maneira nos protegemos daquilo que pode se apresentar como ameaçador ao nosso
psiquismo.
Como é possível compreender a relação que o ser humano estabelece com a
realidade? Freud se fez estes questionamentos para tentar compreender a
realidade e como nos relacionamos com ela, buscando esse conhecimento nos dois
princípios que regem o funcionamento mental: o “princípio do prazer” e o “princípio
da realidade”.
Freud chama de “princípio do prazer” aos processos primários do
desenvolvimento humano, em que o sujeito busca a obtenção de prazer. Caso haja
um desprazer, a atividade psíquica se recolhe. A este movimento de recolhimento
Freud irá chamar de “recalque”, processo comum no neurótico.
Nem tudo
que desejamos podemos concretizar, pois, a realidade (regras morais, cultura,
tradição, costumes), regida pelo princípio de realidade, impede que o desejo
seja satisfeito de maneira plena, daí a necessidade do recalque. Nesse sentido,
o princípio do prazer é uma atividade psíquica, que abdica da imaginação, da
fantasia, e concebe o real com todas suas vicissitudes e suas possíveis
conseqüências desagradáveis. Daí Freud concluir ser a neurose o resultado de um
conflito entre o Ego e o Id, ou seja, entre aquilo que o indivíduo é (ou foi)
de fato, com aquilo que ele desejaria prazerosamente ser (ou ter sido).
Profa. Dra. Edna Paciência
Vietta
Psicóloga Clínica,