Enfrentar
angústias ou somatizá-las - eis a questão
Somatização,
basicamente, é uma manifestação de conflitos e angústias psicológicos por meio
de sintomas corporais. Lipowski (1988) propõe que a somatização “é uma tendência
que o indivíduo tem de vivenciar e comunicar suas angústias de forma somática,
isto é, através de sintomas físicos que não têm uma evidência patológica, os
quais atribuem às doenças orgânicas, levando-o a procurar ajuda médica”.
Acredita que tal tendência geralmente se manifesta em resposta a estresses
psicossociais como eventos de vida e situações conflitivas. Não obstante, esses
pacientes geralmente não conseguem relacionar suas angústias com questões
psicossociais quando não, negam explicitamente tal
possibilidade.
O
médico vê-se pressionado a efetuar muitos exames físicos e análises para
determinar se o cliente tem uma perturbação física que explique os sintomas. As
inter-consultas com especialistas são freqüentes, mesmo quando a pessoa tenha
desenvolvido uma relação razoavelmente satisfatória com seu
médico.
Indivíduos
com transtorno de somatização costumam passar longos períodos internados fazendo
exames, mas nenhum deles explica satisfatoriamente seus sintomas.
Se
após alguns exames e consultas médicas, nenhuma doença for detectada, há grande
chance de o diagnóstico apontar para um transtorno psicossomático, também
conhecido como somatização. A somatização é uma doença de fundo emocional e
invariavelmente pode refletir fisicamente, com taquicardias, síndrome do pânico
ou ataques de ansiedade.
O
estresse e a ansiedade são os principais fatores no aparecimento, na manutenção
ou repetição de uma doença física, porque alteram o funcionamento de vários
sistemas do nosso organismo,
liberando
ou inibindo a produção de substâncias, como adrenalina, cortisol e
serotonina.
Sabe-se
hoje, que os estados psíquicos como estresse, depressão, ansiedade, medo, raiva,
etc., favoreçam o desenvolvimento e/ou a manifestação de doenças orgânicas como
úlceras, colites, problemas cardíacos, alergias, doenças da pele e até mesmo o
câncer.
Segundo
Volp, J.H (2005), o
corpo sente, aprende, se disciplina, se condiciona e expressa os conflitos
emocionais da mente, corporificados nos tecidos celulares, refletidos na
qualidade do tônus muscular, expressões faciais, ritmo respiratório, postura,
tom de voz, etc. Portanto, nosso corpo é moldado de acordo com as experiências
vividas, principalmente aquelas ocorridas na primeira infância, quando as formas
que encontramos para nos defender ainda são precárias. Esses acontecimentos
muitas vezes deixam marcas profundas e irreversíveis.
Estudos
mostram que existem traços de personalidade comuns àqueles que tendem a
somatizar. São, em geral, pessoas muito pragmáticas, com reduzida capacidade de
fantasiar, dão pouco espaço para elaboração psíquica, pouca capacidade de
imaginação, de sonhar. Têm o que se chama de pensamento operatório. "Para eles
pau é pau e pedra é pedra", tem pouco contato e tempo para suas questões
psicológicas.
Vêem as coisas de forma tão concreta que lhes parece mais simples viver os conflitos no corpo do que problematizá-los no psíquico.
Vêem as coisas de forma tão concreta que lhes parece mais simples viver os conflitos no corpo do que problematizá-los no psíquico.
Nem crianças escapam da somatização. Como elas
têm as defesas psíquicas menos estruturadas, não é difícil que apresentem febre,
falta de ar ou diarréia quando passam por algum tipo de sofrimento.
Portanto,
constantemente somos confrontados com dois caminhos: ouvir nosso corpo e
deixá-lo falar em seus desejos e expressar suas angústias, ou submetê-lo aos
estresses físicos e psicológicos diários que a vida nos traz, formando assim as
couraças.
Os
somatizadores estão entre os principais usuários do sistema de
saúde: 60% das
consultas médicas referem-se a pacientes com queixas sem nenhuma causa orgânica.
As principais reclamações são: Dor no peito, Fadiga, Tontura, Dor de cabeça, Dor
nas costas, Falta de ar, Taquicardia, Insônia, Dor
abdominal.
Certas
doenças têm um componente fortemente somático. É o caso de asma, úlceras,
fibromialgia, gastrite, alergias e herpes, principalmente. As situações que mais
deflagram respostas somáticas são as de estresse decorrente perdas diversas por
luto ou perda afetiva, separação conjugal, perda de emprego, aposentadoria,
perda financeira, etc.
As
explicações puramente biológicas da doença têm sido questionadas em diversos
estudos que evidenciam a influência da mente e das emoções, nos estados de
saúde. Sabe-se, hoje, que o sistema nervoso autônomo, responsável pela
coordenação do funcionamento de todos os órgãos internos, é regulado pelo
sistema límbico, que por sua vez é afetado pelas experiências afetivas e
emocionais do indivíduo em seu contexto social.
Profa. Dra. Edna
Paciência Vietta
Psicóloga Ribeirão Preto
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