Tédio e Pós-modernidade
O tédio um
sentimento subjetivo, condição ou estado, antes, apanágio da nobreza e do clero
(como benefício concedido a certo
grupo em detrimento dos demais; considerado privilégio ou mesmo regalia a ser
desfrutada por algumas pessoas), hoje, na contemporaneidade, é um
fenômeno de grande impacto na saúde mental da sociedade ocidental. Por sua
origem estranha, se questiona se é ele, um fator histórico e cultural ou,
condição da natureza humana. O fenômeno se manifesta de forma e angustiante, e
se refere à perda de significado humano diante da vida, do mundo e da realidade
e podendo atingir qualquer pessoa em qualquer nível social. Como objeto de
reflexão o tédio só veio a ser considerado depois do Romantismo. Segundo
Honório de Medeiros, “um pouco mais recentemente - quando o romantismo
assumia contornos lúgubres - talvez chamássemos o tédio de "inquietude
d'alma". Esse tédio, ainda segundo o mesmo autor, era decorrente de uma
angústia filosófica - o homem queria saber qual o sentido da vida, para onde
caminhava a humanidade, etc.”
E hoje? Por
fazer parte do cotidiano, todos nós, de alguma forma, desenvolvemos, em algum
momento da vida, o tédio, envolvendo a perda de significados pessoais, perda de
sentidos, desconforto diante da vida, indisposição de exercer atividades
anteriormente prazerosas.
O tédio, não
deve ser considerado, tão somente um comportamento patológico; na medida em que
não é uma expressão contínua; acontecendo no contexto de eventos esporádicos do
cotidiano. Desse modo, não se pode conceber o tédio apenas como um estado
mental interior, senão, também, como uma conseqüência do mundo pós-moderno,
pois as atividades sociais, contemporâneas acabam sendo propicias ao
desencadeamento do mesmo.
Segundo Lars
Svendsen, tédio é um fenômeno característico da modernidade e pertinente à
realidade subjetiva de todos nós, um problema do qual ninguém fica de fora,
ninguém é poupado
Segundo
Carvalho (1998), o tédio é um dos modos de subjetivação a se multiplicar na
pós-modernidade decorrente da busca de um ideal fora do alcance que gera um
processo de frustração e desinvestimento da vida. Para Svendsen (2006), trata
de uma ausência de significado pessoal. La Taille (2009), o define como um
tempo longo, lento, que não passa, longo demais para ser suportado. Buchianeri (2012), acentua no tédio a falta
de sentido aliada ao sentimento de vazio do sujeito. Baudelaire, poeta Francês
do século XIX, descreve o tédio como inércia, inatividade, vida de pouca
intensidade, estado de insatisfação permanente.
Carvalho
(1998) afirma que o tédio assenta-se num sentimento de fastio, num cansaço
diante das transformações incessante e rápidas e das super ofertas de um mundo
que se funda na imagem da abundância e do consumismo.
Neste
contexto, o tédio encontra um grande aliado no capitalismo. Com esse sistema
econômico e social, o nosso mundo subjetivo sofre, também, grandes
transformações.
O homem
pós-moderno vive numa época de descrença e tem a impressão de que a vida carece
de significado. A humanidade ingressou numa fase caracterizada pelo declínio
dos valores.
Desse modo,
quando não há mais nada a nos gerar qualquer interesse, desenvolvemos a queixa
de que essa vida é intolerável, desprovida de motivações e significados. Além disso, na contemporaneidade, com a
extensa quantidade de estímulos e a possibilidade de desenvolver várias atividades
ao mesmo tempo, essas atividades e estímulos perdem seus significados iniciais,
sendo rapidamente abandonados pelo sujeito.
Dessa maneira, as pessoas tentam compensar o vazio
que sentem, praticando o abuso de drogas, álcool, fumo, promiscuidade, vandalismo,
desenvolvendo distúrbios alimentares, agressão, violência, etc. Tédio também pode ser um sintoma de
depressão, mas difere desta no sentido de que o tédio é uma espécie de indisposição para fazer qualquer
coisa, inclusive as atividades que normalmente achamos prazerosas, como ler um
livro ou ouvir música. É uma sensação menos intensa e mais sujeita às
circunstâncias enquanto a depressão é profunda e vem acompanhada de sintomas como tristeza
e baixa auto-estima. No entanto, às vezes, ambos se confundem. Quando a falta
de ânimo se torna crônica, desencadeia o tédio existencial que se assemelha a
uma depressão branda. “Em ambas as situações, a pessoa não tem vontade de fazer
nada e pode achar que a vida não vale à pena.
Profa. Dra. Edna
Paciência Vietta
Psicóloga
Clínica
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