Estresse:
na perspectiva do mundo pós-moderno.
O
ser humano sempre teve que assegurar sua própria sobrevivência, lutando ou
fugindo dos perigos iminentes. Nos primórdios da humanidade o ser humano lutava
contra os predadores e os perigos provocados por eventos da natureza:
tempestades, furacões, e outros acontecimentos imprevistos. Na vida moderna nossa sobrevivência continua
sendo uma luta diária.
O mundo muda ao longo dos séculos, embora
semelhantes, as causas do estresse continuam as mesmas, persistindo como
condição de enfrentamento intrínseco e natural da humanidade. O bombardeio de
informações, a violência urbana, as drogas, as desigualdades sociais, as
doenças, os conflitos, as guerras, tudo leva ao universo do estresse. Até bem
pouco tempo, a humanidade vivia sem o recurso do fax, do telefone celular, do
computador, da internet. De repente, o homem se dá conta das transformações
ocorridas e se surpreende a cada dia, tendo que se adaptar às novas condições de
vida. Há uma maior exigência interna e externa para a adaptação do ser humano às
condições da vida atual.
A
necessidade de conseguir mais dinheiro, atingir níveis de conforto e status
social elevado, conquistar e manter-se num bom emprego, prover a família com
bens materiais estimulado pela mídia, competir por melhores oportunidades
profissionais, viver a maior parte do dia no trabalho e longe da família,
alimentar-se de forma irregular e desequilibrada são apenas alguns fatores que
certamente colaboram para o estresse no mundo contemporâneo.
A
evolução tecnológica e científica mudou também o estilo de vida do homem
moderno, impondo-lhe novas atitudes e comportamentos. Difícil é saber até que
ponto e, em que sentido esta evolução contribuiu para melhorar ou piorar a
qualidade de vida do homem na terra, embora se cogite que, dificuldades ou
aspectos negativos possam ocorrer por conta da forma como o homem se utiliza
destas conquistas.
De
outra perspectiva, sem nenhum pessimismo, mas numa visão crítica, sabe-se que o
crescimento econômico, alicerçado no consumismo e na competição desenfreada
gerou muitas frustrações, fracassos, mal-estar social, vazio existencial,
enquanto o sofrimento humano gerou na pós-modernidade novas formas de patologias
psíquicas de âmbito mundial; a Anorexia Nervosa, a Bulimia, as Fobias, o Pânico,
Alzheimer, só para citar algumas. A compulsão por compras, por exemplo,
tornou-se uma forma de completude entre a ameaça do esvaziamento interior, a
falta de sentido de vida, a angústia, a depressão, enquanto a competição gerou
insegurança, medos, fobias, dependências, alcoolismo.
A
sobrecarga de agentes estressores pode ser considerada importante fator para o
mal-estar da civilização moderna. Essa sobrecarga é um estado no qual as
exigências do ambiente excedem às nossas capacidades de adaptação. Acresce-se
ainda, a urgência de tempo para execução de tarefas, responsabilidades e
preocupações excessivas além dos problemas do dia-a-dia, também assoberbados
pela vida moderna. Estes últimos, relacionados à falta de segurança e
estabilidade, com repercussão nas relações familiares, educação dos filhos
(preocupação com violência e drogas) e a falta de descanso e lazer. A falta de
estímulo, o sentimento de inutilidade, a falta de sentido de vida, a solidão, o
isolamento, a rotina, também podem resultar em estresse.
O
estresse não se manifesta com a mesma intensidade para todas as pessoas, ele se
instala com manifestações que podem variar de leves, moderadas ou intensas,
dependendo do tipo, intensidade, freqüência da exposição ao fator estressante e
das diferenças individuais.
Para
que um evento se torne estressante é necessário que o mesmo, seja percebido como
tal. Assim, o modo de ser de uma pessoa, seu estilo de vida, suas crenças e
valores, seus hábitos, sua personalidade, interferem na eclosão e intensidade do
estresse.
Dependendo
da intensidade, o estresse pode causar grande sofrimento e provocar desgaste
físico e mental, deterioração e envelhecimento precoce, interferir na imunidade
do organismo predispondo-o a doenças ou agravando condições de enfermidades já
instaladas.
Perturbações
psicossomáticas, desencadeadas nestas condições como, enxaqueca, fibromialgia,
hipertensão essencial, úlcera duodenal, obesidade, artrite reumatóide, doença
coronariana, e outros sintomas como: diarréia, taquicardia, falta de ar,
cansaço, insônia, dificuldades de concentração, dificuldades sexuais, podem ser
consideradas como produtos deste fantasma do mundo moderno, quando avaliações
médicas criteriosas e exames clínicos, não forem suficientes para determinar sua
etiologia.
Profa. Dra. Edna Paciência
Vietta
Psicóloga
Clínica
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