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11 de jan. de 2012

Culpa ou neurose? 

      A noção de culpabilidade é extremamente complexa porque envolve diversos aspectos, entre eles: o filosófico, teológico e o psicológico. A angústia e a culpa são fatores dominantes na vida dos seres humanos. No enfoque psicanalítico, podemos dizer que existe uma dicotomia entre o que o indivíduo gostaria de ser - Eu ideal – e o que realmente ele é – Eu real – acarretando, desta forma, o sentimento de culpa pelo fato de ser o que não se é – culpa existencial. No aspecto religioso, esse sentimento de culpa parece originar-se do não cumprimento das regras advindas das leis morais “divinas”.
     A idealização do ser humano, como ser correto, perfeito e virtuoso, é desmistificada. O homem é tomado como um pecador, ou seja, aquele que cometeu um ato contrário à verdade, ferindo a si e/ou ao próximo, acarretando-lhe a culpa e a necessidade de se redimir para livrar-se desse mal. 
      No enfoque psicanalítico, o sentimento de culpa expressa um conflito existente entre o Id e o Superego, tendo como mediador o Ego, que deve serviço a três grandes senhores: o mundo externo, a libido do Id e a severidade do Superego. O Id deseja uma determinada coisa e o Superego (valores dos pais e da cultura incorporados durante a infância) opõe-se ao cumprimento de tais desejos. Esse conflito estrutural a que chamamos de culpa é totalmente inconsciente; conseqüentemente dele, surge como sintomatologia psicopatológica à necessidade de punição ou de castigo.
     Existem em algumas pessoas sentimentos de culpa que não correspondem à angústia e à consciência do pecado, isto é, não há uma culpa objetiva. Esses sentimentos são objeto de estudo da psicoterapia. O sentimento patológico de culpa difere do sentimento do pecado.
     Para Freud, o sentimento de culpa tem origem na infração às leis inconscientes do Superego, portanto, a sua raiz está no próprio inconsciente e no doente, que desconhece sua a causa de sua angústia, projetando-a sobre faltas reais ou imaginárias. O remorso pelo pecado real é bem definido, límpido, destacando-se com nitidez para a consciência. 
     Assim diante dessas colocações, nota-se que se distingue sentimento de culpa e pecado por infrações inconscientes e conscientes, respectivamente. Desta forma, a religião é um recurso para aperfeiçoamento do homem e da salvação de sua alma. O neurótico corre o grave risco de criar uma falsa espiritualidade, uma falsa moralidade, que o impedirá de desfrutar de uma vida boa, voltada para a busca do progresso com vista a perfeição. Ele é guiado por motivações inconscientes de caráter egocêntrico, isto é, mais do que ao serviço do próximo e dos valores, funciona ao serviço do eu. O neurótico confunde o ideal perfeito com a impecabilidade, ama apenas o eu idealizado e ilude-se julgando amar o próprio ideal, sem encontrar paz e equilíbrio. Tem uma religião exclusivamente de temor angustioso de Deus e por isso é duro, rígido para com os outros, a quem procura se impor. Mostra sentimentos de culpabilidade independentes do mal realmente cometido e, assim, angustia-se por faltas sem importância, abandona-se facilmente à tristeza e aos sentimentos de insuficiência. O fato que todas as psicoterapias reconhecem uma estreita relação entre as neuroses e a vida moral do sujeito. Assim, do ponto de vista da psicanálise, quanto ao controle instintual, da moralidade, pode-se dizer que o Id é totalmente amoral; o Ego se esforça por ser moral e o Superego é super-moral e pode tornar-se tão cruel quanto somente o Id pode ser. Daí, ser importante, o reconhecimento da própria culpa, como fruto de uma autocrítica e reconhecimento da falta. Pois neste sentido, o homem toma consciência da ruptura existente entre o que desejaria ser - Eu-Ideal - e o que realmente é - Eu-Real.
      O remorso surge como uma primeira tentativa para aliviar essa dor, podendo levar o homem à harmonia interior ou ao desespero. É importante distinguir entre o remorso advindo do pecado e a angústia advinda do sentimento de culpa, pois, o esclarecimento do homem quanto as suas transgressões internas e/ou externas pode propiciar maior compreensão de si, de seu funcionamento psíquico e a busca de novos caminhos para o aperfeiçoamento de suas virtudes.

                        Profa.Dra. Edna Paciência Vietta
                                    Psicóloga Clínica

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Psicoterapia e seus benefícios



Os últimos avanços na área da Psicologia e Psicoterapia têm permitido alcançar resultados cada vez melhores e mais significativos. Apesar de ser considerado um tratamento oneroso, a psicoterapia tem se mostrado, na realidade, um procedimento econômico. Pesquisas indicam que a aplicação efetiva da psicoterapia diminui os índices de transtornos mentais, internações hospitalares, idas aos prontos socorros, a auto-medicação e seus malefícios, e consumo indevido de psicotrópicos, outros medicamentos, etc.
Além dos benefícios que traz para a saúde psicológica da pessoa, a psicoterapia melhora a qualidade de vida, favorece a aquisição de autonomia, aumento de auto-estima, dando uma nova orientação em relação à vida das pessoas. A psicoterapia tem se mostrado um tratamento economicamente compensador, por prevenir e tratar problemas psicológicos que, quando não tratados adequadamente, trazem enormes prejuízos pessoais, conjugais, sociais e profissionais, com repercussão na situação econômica e afetiva das pessoas (perdas financeiras, compulsões, divórcios, separação, perda de emprego ou de oportunidade de ascensão no trabalho, etc.).
Em nossa atividade profissional, temos observado que a maioria das pessoas que tem comparecido à clínica, em busca de ajuda psicológica, o faz por vontade própria, outros vêm por insistência ou pressão da família. Os que comparecem por esta última via, geralmente, apresentam maior dificuldade em aderirem ao tratamento, neste caso demoram um pouco mais a se engajarem no processo. É importante dizer que a psicoterapia só funciona a partir do momento em que o cliente desejar ser ajudado e aceitar o tratamento, ou seja, sem engajamento não há terapia. A experiência tem mostrado que as pessoas que procuram ajuda espontaneamente respondem melhor ao tratamento e têm melhor aproveitamento que aquelas que se submeteram às decisões de terceiros. Os que tomaram iniciativa própria, geralmente se deram conta de que algo diferente estava acontecendo com elas, sentiram necessidade de buscarem ajuda e obtiveram grande alívio ao poderem expressar seus sentimentos de forma adequada. Alguns destes sentimentos foram manifestos através da verbalização de insatisfação como forma da pessoa reagir a certos acontecimentos, frustrações com sua situação familiar, dificuldades nos relacionamentos interpessoais, falta de iniciativa ou disposição para realizar atividades cotidianas, posturas habitualmente pessimistas, oscilação de humor, medos irracionais, pânico, timidez, ansiedade, depressão, ciúme, desânimo, entre outros. Ainda, como motivos desta procura foram indicados: a percepção de que o padrão de comportamento utilizado por essas pessoas não lhes proporcionava vida estável e equilibrada, que o jeito habitual de ser, lhes causava problemas e prejuízos consideráveis na vida pessoal, social e profissional, sendo, muitas vezes, impeditivos para o estabelecimento de relacionamentos satisfatórios.
Temos presenciado pessoas que procuram ajuda psicológica por, de repente, se deram conta de que os problemas foram se acumulando ao longo da vida e soluções foram sendo postergadas às expensas do estresse causado, culminando em agravamento de conflitos pessoais, conjugais e profissionais. Algumas pessoas ficaram surpresas em terem permitido que seu estado emocional pudesse chegar a tal nível. Tais pessoas se questionaram como puderam negligenciar sua saúde mental e conviverem com tantos problemas, suportando tantos sofrimentos. Mais surpresas ficaram quando descobriram as conseqüências negativas, que poderiam ter evitado (algumas delas irreversíveis), caso tivessem buscado ajuda apropriada, no momento adequado. As pessoas se mostraram arrependidas por não terem tomado iniciativa antes, tomando consciência do preço que tiveram que pagar por permanecerem em conflitos consigo e com os outros, sobretudo, com os mais próximos e significativos (filhos, pais, cônjuges, etc.). Admitiram o quanto viveram infelizes, derrotadas, amargas, mal-humoradas, quando poderiam ter desfrutado melhor as oportunidades da vida. Pessoas que já poderiam ter alcançado sucesso em sua vida conjugal, familiar, profissional, encontram-se hoje, sem rumo, desorientadas frustradas, sem perspectivas futuras por falta de autoconhecimento e auto-estima. Quantas delas insistem em resolver os problemas por si próprias, sem obterem resultados desejados, se acomodando a eles por medo, orgulho, preconceito, teimosia, ou mesmo, por ignorarem os recursos psicológicos disponíveis. Ainda, assim, muitas resistem recorrerem a esta alternativa, mesmo sabendo ser esta, o recurso efetivo para instrumentá-las a lidarem adequadamente com seus conflitos.

Auto-estima: sucessos e fracassos

A auto-estima é um sentimento essencial à sobrevivência psicológica, no entanto, as exigências do mundo moderno parecem estar tornando tal conquista uma tarefa penosa e difícil de ser atingida. Haja vista suas implicações freqüentemente detectadas nas queixas dos clientes tanto jovens, como adultos e idosos que procuram ajuda psicológica, entre elas: a timidez, a insegurança, a depressão, a dependência afetiva, o ciúme excessivo, etc.
A crise de valores parece ser outra conseqüência desta presença constante, um dos sintomas emocionais freqüentes. Muitos sentimentos de inferioridade podem ser influenciados por valores distorcidos pela mídia, por publicidades apelativas, por apelos ao consumismo, pelo culto ao corpo, por ideologias consumistas.
O mundo moderno supervaloriza o novo, o belo, o perfeito, o forte, os mais jovens, a performance sexual, as proezas atléticas, o poder, as posses materiais, mas não valoriza da mesma forma, o amor, a simpatia, o caráter, a amizade, a alegria, a paz, a fé, a tolerância, a fidelidade, a compreensão, as tradições, a disciplina, os valores morais. Quando falamos de auto-estima estamos referindo-nos ao grau de aceitação de nós mesmos, do grau de estima que adotamos frente ao conceito que fazemos de nós. Nossos sentimentos afetam nossa auto-estima de maneira positiva ou negativa. O sentimento de auto-estima é a percepção valorativa de nosso ser, da importância que temos para as pessoas que nos rodeiam, e desta, depende toda nossa realização pessoal e profissional. É a partir dela que tomamos decisões, fazemos escolhas e nos relacionamos e interagimos com o meio familiar, profissional e social.
Da auto-estima depende nossos sucessos e fracassos, uma vez que vinculada a um conceito positivo de nós mesmos, pode potencializar nossas capacidades e talentos, desenvolver habilidades, aumentar nosso grau de segurança pessoal e nos levar a postura otimista frente a novas conquistas. Isto implica no sentimento de estarmos de bem com a vida, de sermos aceitos e amados pelo que somos. Por outro lado, também é certo que auto-estima em excesso pode se constituir num transtorno para o relacionamento quando a pessoa se torna convencida, arrogante, egoísta, podendo, muitas vezes, ser confundida com a personalidade narcísica.
Estudos recentes, realizados por pesquisadores da Califórnia, afirmam que auto-estima muito elevada pode levar à frustração e até mesmo à delinqüência. Segundo os pesquisadores, a pessoa que não sabe dosar sua auto-estima traz danos a si própria e à sociedade, pois esta atitude pode extrapolar os níveis saudáveis da competitividade e exacerbar a agressividade e a intolerância. O ideal é a ponderação entre os extremos.
A auto-estima negativa faz com que a pessoa não confie em si própria, nem em suas possibilidades, se desvalorizando e se sentindo inferior às outras pessoas. A pessoa com baixa auto-estima está sempre com a sensação de desvantagem, incapacidade, sentimento de que nunca chegará a ter o mesmo rendimento que os outros e acaba se convencendo disso. A autocrítica dura e excessiva, imposta pela baixa auto-estima, imprime estados de insatisfação da pessoa consigo própria, indecisão crônica, medo exagerado do insucesso, e de equivocar-se, ser criticado, humilhado, rejeitado, etc. Esta condição faz com que o indivíduo se retraia e desista de seus intentos.
O autoconceito e a auto-estima, em dose adequada, favorecem o sentido de identidade, constitui marco de referência, já que interpretar a realidade externa e às próprias experiências, influem no rendimento, condiciona as expectativas e a motivação, contribuindo de forma efetiva para o controle emocional e conseqüentemente para o equilíbrio psíquico.
O autoconhecimento é o caminho para auto-realização e o processo que leva à auto-estima. À medida que a pessoa identifica e aceita suas qualidades e defeitos, estará aberta para o conhecimento e reconhecimento de seus sentimentos, desejos e vontades, estará dando um grande passo para o autoconhecimento. Em geral, experiências positivas, e bons relacionamentos ajudam a aumentar a auto-estima, enquanto experiências e relações problemáticas a diminuem.
Seja uma pessoa bem sucedida cuidando de sua saúde emocional.




Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga/Psicoterapeuta