O Transtorno obsessivo compulsivo (TOC) não é uma doença nova. Há alguns séculos, as pessoas com pensamentos obsessivos blasfemos ou sexuais eram consideradas possuídas. Esta concepção religiosa das obsessões era consistente com a visão de mundo da época, e a lógica do tratamento consistia em expulsar o mal da alma possuída. O exorcismo era o tratamento de escolha. Com o tempo, a explicação das obsessões e compulsões desviou-se de uma visão religiosa para uma visão médica.
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), já foi também considerado um transtorno raro, pois usualmente eram identificadas apenas as suas formas mais graves, enquanto que os sintomas quando mais leves, eram considerados "manias", "fraquezas" ou "falta de vontade" de tal forma que se o paciente o desejasse poderia livrar-se delas.
Considerado raro até há pouco tempo, o TOC é uma doença bastante comum, acometendo aproximadamente um em cada 40 ou 50 indivíduos. No Brasil, é provável que existam entre 3 e 4 milhões de portadores. Muitas dessas pessoas, embora tenham suas vidas gravemente comprometidas pelos sintomas, nunca foram diagnosticadas e tampouco tratadas. Talvez a maioria desconheça o fato de esses sintomas constituírem uma doença para a qual já existem tratamentos bastante eficazes.
O TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo é hoje classificado como uma doença mental crônica incluída nos Transtorno de Ansiedade que se manifesta pela presença de obsessões e/ou compulsões. Está classificado ao lado das Fobias (medo de lugares fechados, elevadores, pequenos animais - como ratos ou insetos), da Fobia Social (medo de expor-se em público ou diante de outras pessoas), do Transtorno de Pânico (ataques súbitos de ansiedade e medo de freqüentar os lugares onde ocorreram os ataques), etc.
Os sintomas do TOC envolvem alterações de comportamento (repetições, evitações), de pensamento (preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de conteúdo impróprio ou "ruim", obsessões) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Sua característica principal, como já comentamos, é a presença de obsessões e/ou compulsões ou rituais.
Obsessões são pensamentos ou idéias, impulsos, imagens, cenas, que invadem a cabeça da pessoa de modo persistente, podendo ou não ser seguidos de comportamentos (manias) para neutralizá-los. São sentidos como estranhos e intrusivos causando aumento da ansiedade e grande desconforto.
Geralmente essas obsessões estão ligadas à higiene, organização, contaminação, transmissões de bactérias ou vírus. Por exemplo, uma obsessão comum é a preocupação excessiva com a limpeza, que é seguida por lavar as mãos repetidamente, o que torna esse ato uma compulsão.
Compulsões ou rituais são comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos executados em resposta a obsessões ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. Os exemplos mais comuns são lavar as mãos, fazer verificações, contar, repetir frases ou números, alinhar, guardar ou armazenar, repetir perguntas, etc. As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade, levando o indivíduo a executá-las toda vez que sua mente é invadida por uma obsessão acompanhada de aflição. Nem sempre têm conexão realística com o que desejam prevenir (p ex., alinhar os chinelos ao lado da cama antes de deitar para que não aconteça algo de ruim no dia seguinte; dar três batidas em uma pedra da calçada ao sair de casa, para que a mãe não adoeça).
Algumas compulsões não são percebidas, pois se desenvolvem mentalmente e não mediante comportamentos motores, observáveis. Alguns exemplos: repetir palavras especiais ou frases: rezar, relembrar cenas ou imagens, contar ou repetir números, fazer listas, marcar datas, tentar afastar pensamentos indesejáveis, substituindo-os por pensamentos contrários. É comum, em portadores do TOC, a lentidão ao executar tarefas. Essa lentidão pode ocorrer em virtude de repetições (tirar e colocar a roupa várias vezes, sentar e levantar, sair e entrar, etc.), de verificações (trabalho, listas, documentos) ou do adiamento de tarefas devido à indecisão.
Os portadores do TOC sofrem de muitos medos (de contrair doenças, de cometer falha, de serem responsáveis por acidentes). Em razão desses medos, evitam as situações que possam provocá-los - comportamento chamado de evitação.
As evitações são, em grande parte, responsáveis pelas limitações que o transtorno acarreta. Felizmente, têm sido desenvolvidos novos métodos de tratamento, utilizando-se medicamentos e psicoterapia (cognitivo-comportamental) capazes de reduzir os sintomas e, muitas vezes eliminá-los.
Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica
Nenhum comentário:
Postar um comentário