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10 de jun. de 2012



DOR É UMA SÓ: É A DOR  



Segundo Breton (1995), a dor, como as doenças, não são apenas manifestações universais de processos orgânicos, mas construções simbólicas que variam conforme os contextos socioculturais e a própria subjetividade do doente.
Pela vertente psicológica, a concepção de dor pode ser enfaticamente concebida como uma experiência perceptiva, sensível, cuja qualidade e intensidade são influenciadas pela singularidade, história de vida e significado atribuído pelo indivíduo à situação produtora de dor, das condições físicas e emocionais e pelo seu estado de espírito do momento.
 A Psicologia não diferencia a dor, a não ser por sua causalidade; dor é dor. Parafraseando o poeta Fernando Pessoa, como negar que é dor “a dor que deveras sente?” pela perda, culpa, remorso, traição, injustiça, ingratidão?
Pensada ontologicamente, a dor pode ser definida como a conscientização da certeza da transitoriedade da existência, o medo da eminência de perda de controle sobre a vida, o sinal de fragilidade e impotência humana, diante da certeza da finitude. A dor coloca o homem em conflito com a possibilidade do não-ser.
A dor moral não se aloja em nenhum órgão, não deixa vestígios tissulares, não é palpável, não inflama, mas existe, é pungente, é sentida, quebranta a alma, arrasa, dificulta nossa faculdade de raciocinar sobre coisas tangíveis e intangíveis.
Assim posto, o estudo, avaliação e compreensão da dor e do sofrimento não são passíveis de serem estudados somente através de métodos positivistas, ainda que estes possam nos trazer alguma luz para o seu entendimento.
Aqui, questionamos até que ponto o paradigma newtoniano-cartesiano, sob a égide e pretensão de objetividade científica, onde a natureza funciona como um relógio, nossos corpos sentidos de maneira mecânica e nossa dor e sofrimento tratado orgânica e mecanicamente, não foi a base da desumanização da Ciência, da Tecnologia, da Saúde e do Ser Humano?
Todo pragmatismo, ambição desmedida, consumismo exagerado, arrogância do poder, a inversão dos valores humanos mais elevados não seria resultado desta visão de mundo, na qual o homem é visto como máquina, fragmentado e separado da natureza?
Não podemos desconsiderar que o método analítico cartesiano foi um recurso inestimável e fantástico da evolução da ciência e para o desenvolvimento do mundo moderno; porém, é igualmente inegável suas conseqüências para o descaso dos sentimentos mais íntimos do ser humano.
Embora as diferentes definições de dor nos remetam a traços comuns, como o caráter de subjetividade, a natureza sensível, a condição de desprazer, ainda assim deixam muito a desejar, constituindo-se ainda em uma grande incógnita.
A experiência dolorosa tem forte relação com o nível de dor e a atitude básica do ser humano perante a vida. Por exemplo, aspectos negativos decorrentes de uma falha pessoal, quando não esquecidos “pesam na alma”, constituindo-se num remanescente perturbador, enquanto não reparado ou aliviado através de algum tipo de punição. A pessoa que experimenta a dor como punição, mesmo que aceite procurar ajuda profissional, pode não aderir ao tratamento, recusando-se consciente ou inconscientemente a seguir a conduta médica estabelecida. O fato é que o ser humano participa de forma ativa ou passivamente do processo de adoecer.
O entendimento pelo profissional desta concepção moral da dor e do sofrimento e de seu lugar estruturante na experiência da dor e do sofrimento é decisivo e não deve ser ignorado. É importante estar alerta para os possíveis significados defensivos da dor e do sofrimento, de modo a se compreender as funções da dinâmica, origem e desenvolvimento da metapsicologia de seu simbolismo e sua representação no aparelho psíquico.
Enquanto a abordagem psicológica humanista constata o quanto o cuidado, o acolhimento, a aceitação, a palavra de conforto, a esperança, a fé, a atenção, o olhar terno, sincero, carinhoso e o toque atenuam o sofrimento, amenizam a dor, acalmam o espírito, a neurociência constata que os mecanismos de ação de tais intervenções são capazes de estimular no organismo humano produzir analgésicos endógenos, substâncias naturais, com grande poder anestésico.
É preciso reencontrar o elo perdido, juntar fragmentos, unir forças, rever valores, preservar nossa singularidade, olhar o ser humano em sua totalidade, apreender uma visão de mundo totalizador, tornar o ser humano mais consciente, mais sadio, mais livre, menos normótico.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
             Psicóloga Clínica  

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Psicoterapia e seus benefícios



Os últimos avanços na área da Psicologia e Psicoterapia têm permitido alcançar resultados cada vez melhores e mais significativos. Apesar de ser considerado um tratamento oneroso, a psicoterapia tem se mostrado, na realidade, um procedimento econômico. Pesquisas indicam que a aplicação efetiva da psicoterapia diminui os índices de transtornos mentais, internações hospitalares, idas aos prontos socorros, a auto-medicação e seus malefícios, e consumo indevido de psicotrópicos, outros medicamentos, etc.
Além dos benefícios que traz para a saúde psicológica da pessoa, a psicoterapia melhora a qualidade de vida, favorece a aquisição de autonomia, aumento de auto-estima, dando uma nova orientação em relação à vida das pessoas. A psicoterapia tem se mostrado um tratamento economicamente compensador, por prevenir e tratar problemas psicológicos que, quando não tratados adequadamente, trazem enormes prejuízos pessoais, conjugais, sociais e profissionais, com repercussão na situação econômica e afetiva das pessoas (perdas financeiras, compulsões, divórcios, separação, perda de emprego ou de oportunidade de ascensão no trabalho, etc.).
Em nossa atividade profissional, temos observado que a maioria das pessoas que tem comparecido à clínica, em busca de ajuda psicológica, o faz por vontade própria, outros vêm por insistência ou pressão da família. Os que comparecem por esta última via, geralmente, apresentam maior dificuldade em aderirem ao tratamento, neste caso demoram um pouco mais a se engajarem no processo. É importante dizer que a psicoterapia só funciona a partir do momento em que o cliente desejar ser ajudado e aceitar o tratamento, ou seja, sem engajamento não há terapia. A experiência tem mostrado que as pessoas que procuram ajuda espontaneamente respondem melhor ao tratamento e têm melhor aproveitamento que aquelas que se submeteram às decisões de terceiros. Os que tomaram iniciativa própria, geralmente se deram conta de que algo diferente estava acontecendo com elas, sentiram necessidade de buscarem ajuda e obtiveram grande alívio ao poderem expressar seus sentimentos de forma adequada. Alguns destes sentimentos foram manifestos através da verbalização de insatisfação como forma da pessoa reagir a certos acontecimentos, frustrações com sua situação familiar, dificuldades nos relacionamentos interpessoais, falta de iniciativa ou disposição para realizar atividades cotidianas, posturas habitualmente pessimistas, oscilação de humor, medos irracionais, pânico, timidez, ansiedade, depressão, ciúme, desânimo, entre outros. Ainda, como motivos desta procura foram indicados: a percepção de que o padrão de comportamento utilizado por essas pessoas não lhes proporcionava vida estável e equilibrada, que o jeito habitual de ser, lhes causava problemas e prejuízos consideráveis na vida pessoal, social e profissional, sendo, muitas vezes, impeditivos para o estabelecimento de relacionamentos satisfatórios.
Temos presenciado pessoas que procuram ajuda psicológica por, de repente, se deram conta de que os problemas foram se acumulando ao longo da vida e soluções foram sendo postergadas às expensas do estresse causado, culminando em agravamento de conflitos pessoais, conjugais e profissionais. Algumas pessoas ficaram surpresas em terem permitido que seu estado emocional pudesse chegar a tal nível. Tais pessoas se questionaram como puderam negligenciar sua saúde mental e conviverem com tantos problemas, suportando tantos sofrimentos. Mais surpresas ficaram quando descobriram as conseqüências negativas, que poderiam ter evitado (algumas delas irreversíveis), caso tivessem buscado ajuda apropriada, no momento adequado. As pessoas se mostraram arrependidas por não terem tomado iniciativa antes, tomando consciência do preço que tiveram que pagar por permanecerem em conflitos consigo e com os outros, sobretudo, com os mais próximos e significativos (filhos, pais, cônjuges, etc.). Admitiram o quanto viveram infelizes, derrotadas, amargas, mal-humoradas, quando poderiam ter desfrutado melhor as oportunidades da vida. Pessoas que já poderiam ter alcançado sucesso em sua vida conjugal, familiar, profissional, encontram-se hoje, sem rumo, desorientadas frustradas, sem perspectivas futuras por falta de autoconhecimento e auto-estima. Quantas delas insistem em resolver os problemas por si próprias, sem obterem resultados desejados, se acomodando a eles por medo, orgulho, preconceito, teimosia, ou mesmo, por ignorarem os recursos psicológicos disponíveis. Ainda, assim, muitas resistem recorrerem a esta alternativa, mesmo sabendo ser esta, o recurso efetivo para instrumentá-las a lidarem adequadamente com seus conflitos.

Auto-estima: sucessos e fracassos

A auto-estima é um sentimento essencial à sobrevivência psicológica, no entanto, as exigências do mundo moderno parecem estar tornando tal conquista uma tarefa penosa e difícil de ser atingida. Haja vista suas implicações freqüentemente detectadas nas queixas dos clientes tanto jovens, como adultos e idosos que procuram ajuda psicológica, entre elas: a timidez, a insegurança, a depressão, a dependência afetiva, o ciúme excessivo, etc.
A crise de valores parece ser outra conseqüência desta presença constante, um dos sintomas emocionais freqüentes. Muitos sentimentos de inferioridade podem ser influenciados por valores distorcidos pela mídia, por publicidades apelativas, por apelos ao consumismo, pelo culto ao corpo, por ideologias consumistas.
O mundo moderno supervaloriza o novo, o belo, o perfeito, o forte, os mais jovens, a performance sexual, as proezas atléticas, o poder, as posses materiais, mas não valoriza da mesma forma, o amor, a simpatia, o caráter, a amizade, a alegria, a paz, a fé, a tolerância, a fidelidade, a compreensão, as tradições, a disciplina, os valores morais. Quando falamos de auto-estima estamos referindo-nos ao grau de aceitação de nós mesmos, do grau de estima que adotamos frente ao conceito que fazemos de nós. Nossos sentimentos afetam nossa auto-estima de maneira positiva ou negativa. O sentimento de auto-estima é a percepção valorativa de nosso ser, da importância que temos para as pessoas que nos rodeiam, e desta, depende toda nossa realização pessoal e profissional. É a partir dela que tomamos decisões, fazemos escolhas e nos relacionamos e interagimos com o meio familiar, profissional e social.
Da auto-estima depende nossos sucessos e fracassos, uma vez que vinculada a um conceito positivo de nós mesmos, pode potencializar nossas capacidades e talentos, desenvolver habilidades, aumentar nosso grau de segurança pessoal e nos levar a postura otimista frente a novas conquistas. Isto implica no sentimento de estarmos de bem com a vida, de sermos aceitos e amados pelo que somos. Por outro lado, também é certo que auto-estima em excesso pode se constituir num transtorno para o relacionamento quando a pessoa se torna convencida, arrogante, egoísta, podendo, muitas vezes, ser confundida com a personalidade narcísica.
Estudos recentes, realizados por pesquisadores da Califórnia, afirmam que auto-estima muito elevada pode levar à frustração e até mesmo à delinqüência. Segundo os pesquisadores, a pessoa que não sabe dosar sua auto-estima traz danos a si própria e à sociedade, pois esta atitude pode extrapolar os níveis saudáveis da competitividade e exacerbar a agressividade e a intolerância. O ideal é a ponderação entre os extremos.
A auto-estima negativa faz com que a pessoa não confie em si própria, nem em suas possibilidades, se desvalorizando e se sentindo inferior às outras pessoas. A pessoa com baixa auto-estima está sempre com a sensação de desvantagem, incapacidade, sentimento de que nunca chegará a ter o mesmo rendimento que os outros e acaba se convencendo disso. A autocrítica dura e excessiva, imposta pela baixa auto-estima, imprime estados de insatisfação da pessoa consigo própria, indecisão crônica, medo exagerado do insucesso, e de equivocar-se, ser criticado, humilhado, rejeitado, etc. Esta condição faz com que o indivíduo se retraia e desista de seus intentos.
O autoconceito e a auto-estima, em dose adequada, favorecem o sentido de identidade, constitui marco de referência, já que interpretar a realidade externa e às próprias experiências, influem no rendimento, condiciona as expectativas e a motivação, contribuindo de forma efetiva para o controle emocional e conseqüentemente para o equilíbrio psíquico.
O autoconhecimento é o caminho para auto-realização e o processo que leva à auto-estima. À medida que a pessoa identifica e aceita suas qualidades e defeitos, estará aberta para o conhecimento e reconhecimento de seus sentimentos, desejos e vontades, estará dando um grande passo para o autoconhecimento. Em geral, experiências positivas, e bons relacionamentos ajudam a aumentar a auto-estima, enquanto experiências e relações problemáticas a diminuem.
Seja uma pessoa bem sucedida cuidando de sua saúde emocional.




Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga/Psicoterapeuta