Nenhum outro distúrbio tem sido tão estudado nos últimos tempos quanto o TDAH, que atinge cerca de 5 a 10% das crianças em idade escolar, causando grande impacto na infância, juventude e na idade adulta.
Estudos mostram que aproximadamente 60 a 70% das crianças com TDAH evoluirão com sintomas da doença na vida adulta, onde a prevalência mundial para essa faixa etária (adultos) gira em torno de 4%, número bastante expressivo, por sinal. Infelizmente a grande maioria nem sabe que tem o transtorno ou nunca nem ouviu falar de TDAH.
Pesquisas mostram que apenas uma pequena parcela dos nossos adolescentes e adulto recebe diagnóstico correto, algo em torno de 8%. Dos que recebem tratamento, a maioria ainda é submedicada.
Sabe-se que o transtorno acomete de modo adverso a qualidade de vida, não só do seu portador, mas também de toda a família, exigindo de grande esforço para entender e lidar com seus sintomas.
Não é fácil conviver com o indivíduo portador de TDAH e muito menos para próprio
portador. Tanto, que entre portadores de TDAH, o número de divórcios é cerca de quatro vezes mais, quando comparado à população geral. As brigas são constantes, as queixas inúmeras, a falta de dinheiro quase sempre é a regra. Na relação entre esses cônjuges as desavenças são freqüentes e as queixas mais comuns são: atrasos freqüentes, mudanças de plano sem aviso prévio, esquecimentos de datas importantes (aniversário de namoro ou de casamento), falta de atenção quando o/a parceiro/a está de roupa nova, quando a televisão ou o computador se torna mais importante que ela, da impulsividade ou falta de autocontrole, etc.
O portador de TDAH geralmente é rotulado por seu parceiro e familiares como incompetentes, irresponsáveis, preguiçosos e tantos outros adjetivos negativos que fazem sua auto-estima desabar de modo vertiginoso. Na verdade seu problema é de desmotivação, depressão ou outra outro problema emocional ou psiquiátrico.
Segundo a ABDA (Sociedade Brasileira de Deficit de Atenção e Hiperatividade) crescer sem diagnóstico e tratamento para o TDAH pode trazer efeitos devastadores para um adulto. Para alguns, ter um diagnóstico significa colocar a vida inteira dentro de uma perspectiva correta e trazer compreensão para dificuldades sentidas desde sempre. A auto-estima é instantaneamente modificada, pois percepções negativas de si mesmo - "preguiçoso, lerdo, desastrada, avoada, maluco"- não são mais justificadas. Há uma razão para esses comportamentos!
Sabemos que pessoas que possuem o Transtorno de déficit de atenção e/ou hiperatividade têm dificuldades em prestar atenção, controlar suas emoções e as atividades excessivas e que existem três tipos de TDAH, o desatento, o hiperativo e o tipo combinado. (desatento e hiperativo).
A falta de atenção sustentada é um problema, a pessoa não mantém a atenção por muito tempo numa reunião, seu pensamento o leva para longe, parece estar no mundo da lua, se distrai com qualquer estímulo externo e não sabe em que ponto parou para reiniciar uma atividade ou conversação, e em conseqüência muda de atividade freqüentemente, deixando as coisas por terminar. Também perde muitos objetos por causa da sua desorganização.
Já falamos em artigos anteriores que o transtorno é caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que associados ao prejuízo das funções executivas, geralmente transformam a vida do portador em um verdadeiro caos, pois geralmente por falta de informação, o parceiro não compreende o cônjuge portador, e este último acaba sentindo-se rejeitado. O casal acaba se cansando da instabilidade que se instala com brigas freqüentes e desentendimentos constantes e a relação se desgasta. É claro que o TDAH não é o responsável por todos os casos de conflitos conjugais e que nem todos os portadores de TDAH apresentam o mesmo tipo de evolução de sintomas. No entanto, o TDAH/DDA deixa seqüelas emocionais crônicas em seu portador, como sentimento de fracasso precoce, baixa auto-estima e autoconfiança, sentimento de humilhação, instabilidade, descrença de si próprio, autocomiseração, entre outros.
A impulsividade no TDAH se traduz pela dificuldade em inibir comportamentos inadequados. Nesses casos costuma-se dizer que uma das características do TDAH é tomar atitudes sem pensar, o que muitas vezes é a causa de conflitos conjugais e até mesmo rejeição por parte das pessoas. É bom lembrar que tais comportamentos podem fazer parte da vida de qualquer um, ou seja, que sintomas isolados não fazem o diagnóstico do TDAH. Só quando os sintomas estão presentes de forma exagerada e prejudicial em vários setores da vida (acadêmica, familiar e social) é que se pode pensar na possibilidade de TDAH.
Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica